PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS NOVOS CASOS DOS VÍRUS DA HEPATITE B E DELTA EM PORTO VELHO
Resumo
INTRODUÇÃO/OBJETIVO: O vírus da hepatite B (HBV) é um vírus DNA de fita dupla, de elevada transmissibilidade, estima-se que existam 350 milhões de portadores crônicos desse vírus no mundo. O vírus da hepatite Delta (HDV) é um vírus RNA defectivo que necessita do HBsAg para completar seu ciclo biológico. No mundo especula-se que 15 a 20 milhões de pessoas tenham infecção crônica pelo HDV. No Brasil, a área endêmica de hepatite Delta corresponde aos estados da Amazônia Ocidental, incluindo Rondônia. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo retrospectivo de prontuários de pacientes HBV e HBV/HDV admitidos no CEPEM em 2017 e 2018. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 10609819.0.0000.0011). Os dados obtidos foram exportados do Microsoft Office Excel para os programas IBM SPSS® versão 25.0, Graph Pad PRISMA® Versão 6.0 e Tableau® versão 10.5. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram incluídos 324 pacientes, 302 com HBV e 22 coinfectados com HBV/HDV. Porto Velho foi município com a maior incidência de casos, o que pode estar relacionado com a localização do ambulatório na cidade, além da maior concentração populacional, assim, podendo não necessariamente ser essa a cidade com maior proporção de casos por habitante. Em ambos os grupos predominavam os pacientes do sexo masculino, sendo nos HBV 53,3% e nos HBV/HDV 63,6%. Dados semelhantes foram mostrados no Boletim Epidemiológico das Hepatites Virais do Ministério da Saúde de 2019, onde os casos de hepatite B (54,5%) e de hepatite Delta (57,7%) eram predominantemente do sexo masculino. A prevalência de pacientes coinfectados com HBV/HDV entre os HBsAg positivos foi de 6,8%. Apesar de nossos dados se mostrarem inferiores, outros estudos mostram que a de prevalência de coinfecção por HDV em portadores de HBsAg na região amazônica permanece entre 5% a 15%, representando uma das maiores prevalências do mundo. Entre os pacientes monoinfectados com HBV a média de idade foi de 46 anos (18-77) com desvio padrão de 13,2, entre os coinfectados a média foi de 42,8 anos (28-77) com desvio padrão de 11,1. Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre as idades dos dois grupos (p=0,215). Isso demonstra que nossos pacientes tratam-se de uma população economicamente ativa, com a infecção são perdidos não só dias de trabalho com o seguimento, mas também o risco de desenvolver comorbidades associadas à doença hepática avançada, como cirrose, podendo prejudicar o pacientes em suas atividades laborais. Com relação aos fatores de risco para exposição aos vírus, 31,2% dos pacientes relataram contato familiar com portadores do HBV, sendo o fator de risco mais prevalente em monoinfectados (30,4%) e coninfectados (40,9%), dois pacientes HBV/HDV (9,1%) também tinham contato familiar com portadores do HDV. No momento da primeira consulta, dos 302 pacientes HBV, 16,2% (49/302) apresentavam algum sinal de doença hepática, sendo o mais prevalente hepatomegalia (7,9%). Enquanto dos 22 coinfectados HBV/HDV, 59,1% (13/22) apresentavam algum sinal, sendo esplenomegalia o mais prevalente (45,5%). Com essa avaliação das características clínicas, nossos dados mostraram que muitos pacientes já são matriculados com sinais de doença hepática avançada, principalmente quando analisados os pacientes coinfectados. Quase 50% dos HBV/HDV já apresentavam sinal de doença hepática descompensada no início do seguimento, reafirmando o que os estudos trazem, como a Delta crônica sendo frequentemente considerada a forma mais grave de hepatite viral crônica. CONCLUSÃO: Em nosso estudo houve um predomínio do sexo masculino, em idade economicamente ativa, que convivem com portadores crônicos do HBV, o que pode direcionar políticas públicas de saúde de prevenção e tratamento em grupos de maior risco. Apesar da prevalência de 6,8% de anti-HDV entre os HBsAg positivos ser inferior a outros estudos de prevalência na Amazônia, reafirma que Rondônia encontra-se em uma região endêmica para o HDV. Os pacientes coinfectados com HBV/HDV demonstraram sinais clínicos mais graves que os infectados com HBV, reforçando que a hepatite Delta seja a mais grave, e de mais rápida evolução entre as hepatites virais. AGRADECIMENTOS: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, UNISl/CNPq. OUTRAS INFORMAÇÕES: Hepatite B. Hepatite Delta. Epidemiologia. tton.julia@gmail.com